domingo, 14 de dezembro de 2008

Herman Melville (1819-1891) / Moby Dick


Tudo bem que já fizeram vários concursos para ver qual o melhor início de obras já escrito e praticamente todo mundo conhece "Call me Ishmael". Mas o parágrafo inicial é tão lindo, tão inspirador, tão sei lá entende, que não resisti.

"Trate-me por Ishmael. Há alguns anos não importa quantos ao certo, tendo pouco ou nenhum dinheiro no bolso, e nada em especial que me interessasse em terra firme, pensei em navegar um pouco e visitar o mundo das águas. É o meu jeito de afastar a melancolia e regular a circulação. Sempre que começo a ficar rabugento; sempre que há um novembro úmido e chuvoso em minha alma; sempre que, sem querer, me vejo parado diante de agências funerárias, ou acompanhando todos os funerais que encontro; e, em especial, quando minha tristeza é tão profunda que se faz necessário um princípio moral muito forte que me impeça de sair à rua e rigorosamente arrancar os chapéus de todas as pessoas então percebo que é hora de ir o mais rápido possível para o mar. Esse é o meu substituto para a arma e para as balas. Com garbo filosófico, Catão corre à sua espada; eu embarco discreto num navio. Não há nada de surpreendente nisso. Sem saber, quase todos os homens nutrem, cada um a seu modo, uma vez ou outra, praticamente o mesmo sentimento que tenho pelo oceano."


Obs - procurei Moby Dick aqui em casa e percebi que não tenho nem em português, nem em inglês. Não consigo lembrar se emprestei, se nunca comprei, se peguei em alguma biblioteca em algum tempo longínquo... enfim, esclerose. Este trecho estava no site da Folha - Ilustrada.

Obs 2 - todo mundo tem, em diferentes momentos da vida, novembros chuvosos e úmidos na alma. Aliás, cada autor lembra o seu "inverno" de maneiras diferentes.. depois escrevo sobre isso.

5 comentários:

Elaine Cuencas disse...

"Eu tenho que achar um lugar pra esconder as minhas vontades. Não digo vontade magra, pequenininha, que nem tomar sorvete a toda hora, dar sumiço da aula de matemática, comprar um sapato novo que eu não aguento mais o meu. Vontade assim todo o mundo pode ver, não tô ligando a mínima. Mas as outras - as três que de repente vão crescendo e engordando toda a vida - ah, essas eu não quero mais mostrar. De jeito nenhum.
(in, A bolsa amarela de Lygia Bojunga Nunes)

Elaine, ainda bem que já é Dezembro!

Mari Cuencas disse...

Eu nunca tinha me iteressado por Moby Dick. Até agora.

Obrigada por atiçar a curiosidade (que é muita)!

Beijos!!!

P. S.: Você viu meu comentário no teu último post sobre Pessoa?

=***

Andréa disse...

Elaine, faz milênios que li Lygia Bojunga Nunes... acho que preciso reler...

Mari - Moby Dick é sempre lindo. Vi seu comentário sobre o Pessoa....e você falou tão bonito.....não precisa de outro comentário meu.

Anônimo disse...

Olá, Andrea!
Há algo muito forte, ou quem sabe até arrebatador no primeiro parágrafo desta grande obra que é Moby Dick, que acabou por mostrar que nós temos mais afinidades do que pensávamos.
Agostos e Novembros fazem parte da vida de todos, mas como bem escreveu nossa querida Cuencas, "ainda bem que já é Dezembro"...
Sentirei muita falta da suas aulas... que bom que existe este blog.
Michelle Freitas

Andréa disse...

Querida Michelle.... obrigada.....

bjs