sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Nelson Rodrigues



Trecho inicial da crônica "Meditação sobre o impudor", publicada no jornal "O Globo" em 19 de maio de 1972.

"De vez em quando, alguém me chama de flor de obsessão. Não protesto, e explico: - não faço nenhum mistério dos meus defeitos. Eu os tenho e os prezo (estou usando os pronomes como o Otto Lara Rezende em sua fase lisboeta). Sou um obsessivo. E aliás, que seria de mim, que seria de nós, se não fossem três ou quatro idéias fixas? Repito: não há santo, herói, gênio ou pulha sem idéias fixas.

Só os imbecis não as têm. Não sei por que estou dizendo isto. Ah, já sei. É o seguinte: - recebo carta de uma leitora. Leio e releio e sinto a irritação feminina. E, justamente, a leitora me atribui a idéia fixa do umbigo. Em seguida, acrescenta: - 'Isso é mórbido ou o senhor não desconfia que isso é mórbido?' Corretíssima a observação. Realmente, jamais neguei a cota de morbidez que Deus me deu."

Um comentário:

Elaine Cuencas disse...

"...não há santo, herói, gênio ou pulha sem idéias fixas."