domingo, 9 de dezembro de 2012

Oi e tchau

Parei no mês de dezembro passado e voltei em julho. Paro agora de novo e vamos ver quando volto. Um beijo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Tumblr

Coisas lindas do mundo dos tumblrs. Só clicar aqui para ver o meu.


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mark Twain


Trecho do texto sobre "fumo, alimentação e saúde aos 70 anos" (discurso dele de 1905).

"A partir dos 40 anos, nossas manias ficam permanentes. Elas vão se enraizando, se petrificando e a coisa então começa. A partir dos 40, mantive a hora de ir para a cama e me levantar - e esse é um detalhe importante. Transformei em lei só me deitar quando não houvesse mais ninguém com quem conversar e tornei regra só me levantar da cama quando fosse preciso. Isso criou uma inabalável regularidade da irregularidade. Foi o que me salvou, mas teria condenado outra pessoa."

Leiam este livro fantástico. Leiam Huckleberry. Leiam tudo deste homem.

domingo, 25 de novembro de 2012

Composição


"Quando perdi quase tudo,
descobri que a dor
não era maior que o sonho.
Quando esqueci o caminho,
vi que o horizonte
ficava do lado errado.
Quando só o meu rosto
sobrava em cada espelho
(e nada do lado de cá),
juntei desalento e desejo
e me reinventei
com carinho.

(Agora pareço comigo
antes de o amor ser
cancelado.)"

Que coisa bonita, né? Boa semana, amigos.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Crônica e Nelson



Trecho inicial de "A viagem fantástica de Otto", publicada no "Correio da manhã" em 18 de maio de 1967.

"Já disse e aqui repito: o episódio da véspera é tão passado, e passado tão defunto como a vacina obrigatória. Faço esta ressalva para incluir, nestas Confissões, o meu almoço de ontem com Otto Lara Rezende. Tudo aconteceu, ali, num restaurante amigo da rua Santa Clara. Éramos cinco: - Otto, eu, meu filho Joffre, o Hélio Pellegrino e o Vinícius de Moraes.

Não era um Otto qualquer que estava diante de nós, mas um Otto recém-chegado. E aquele que chega é sempre um ser comovido e transcendente. Vinha ele da fabulosa Escandinávia: andara no Pólo, vejam vocês, no Pólo; passara três ou quatro dias em Paris. (Não falemos de Paris, que é um lugar-comum irrespirável.)

Como o Otto vivera uma experiência polar, nós o recebemos como se fora um Byrd, um Amundsen. Se ele saltasse de um trenó, puxado por uma dúzia de caninos brancos, não me admiraria nada. "

Que mesa de discussão... e que texto.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Felizes para sempre


Trecho de crônica do Caio, publicada em "O Estado de São Paulo" no dia 30 de setembro de 1987:

"Os escritores são mestres em criar seus próprios infernos, só para descobrir formas de se ver livres deles. Em todas as esquinas desse labirinto infernal, Yann permanece ao lado de Marguerite, mão a mão. Continuam juntos?, me pergunto na noite tardia de sábado, ouvindo Thelonious Monk. De alguma forma, certamente sim, me respondo. Porque aprendi que esses amores capazes de superar o primeiro impulso que determina o próprio amor - a atração física - ah, esses amores não terminam nunca. (E nós, vivendo essa coisa tão assustada e média...)"

Pois é.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

The lover´s dictionary


Não adianta, uma capa linda de livro vai te chamar a atenção. Seja lá o que for. 

Este eu comprei domingo. Vi a capa, entendi que o autor vai construindo a história de um relacionamento com palavras em ordem alfabética. Não é uma palavra por letra, mas várias por letra até chegar em yearning, yell, yesterday e zenith. Vi as frases curtas e me apaixonei.  Li e é uma coisa muito bacana mesmo. Esta arte de escrever de forma simples me faz cair de amores na hora. 

E uma das palavras com "u" é ubiquitous (que quer dizer algo como "onipresente"):

"When it´s going well, the fact of it is everywhere. It´s there in the song that shuffles into your ears. It´s there in the book you´re reading. It´s there on the shelves of the store as you reach for a towel and forget about the towel. It´s there as you open the door. As you stare off on the subway,  it´s what you´re looking at. You wear it on the inside of your hat. It lines your pockets. It´s the temperature.

The hitch, of course, is that when it´s going badly, it´s in all the same places."

E vou dizer uma coisa chata mas que sempre digo - quem não lê em inglês, perde. E quem lê mais ou menos deveria tentar ler este livro. Vai conseguir.



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Recusa


"Não entendo, não engulo este latim:
Perinde ac cadaver.
'Você tem que obedecer como um cadáver'.

Cadáver obedece?
Tanto vale morrer como viver?
Para isso nos chamam, nos modelam?

Bem faz Padre Filippo:
cansado de obedecer, vai dar o fora
para viver no mundo largo
a fascinante experiência de só receber ordens
do seu tumultuoso coração."


Sábio Padre Filippo.



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Leminski, o sábio

"PRA QUE CARA FEIA?
NA VIDA
NINGUÉM PAGA MEIA."

Boa semana, amigos.

sábado, 10 de novembro de 2012

Ponto seco de agora


Parágrafo inicial do conto "Os sapatinhos vermelhos":

"Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina - ela repetiu olhando-se bem nos olhos, em frente ao espelho. Ou quando começa: certo susto na boca do estômago. Como o carrinho da montanha-russa, naquele momento lá no alto, justo antes de despencar em direção. Em direção a quê? Depois de subidas e descidas, em direção àquele insuportável ponto seco de agora."


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sonhei


Palavras da Fal, na página 289:

"Não, eu definitivamente não quero discutir a relação, analisar as variáveis, reavaliar as estratégias, sondar o terreno, pedir uma segunda opinião, deixar a massa adrede preparada, controlar danos, ajustar expectativas, listar dados, fechar poros, conter despesas, partir para o ataque, poupar o mensageiro, abraçar minha criança interior, adotar uma tecnologia, aparar arestas, ouvir o outro lado, traçar rotas de fuga, vivenciar papéis, transar aquele lance, esperar 5 minutinhos, rever os conceitos, justificar as escolhas, passar um cafezinho, dominar os jargões, mudar os paradigmas, agir estrategicamente, agregar valor, inicializar um processo, respeitar os limites, instalar o equipamento, tentar só mais um pouquinho, ser uma boa menina."

Nem eu.

Leiam este livro, gente.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Luis Fernando Veríssimo


Todo mundo tem que gostar do Veríssimo. Textos perfeitos. Não tem como dizer outra coisa. E morro de rir. Hoje li "Diálogos impossíveis" e fiquei rindo sozinha várias vezes. Minha crônica favorita do livro é a "Tem cada um..." que foi publicada no dia 31 de julho de 2011.

Olhem só este trecho:

"Tem por exemplo, o Victor, que não perde oportunidade de ostentar sua cultura, para divertimento e, às vezes, irritação da turma.

...

Mas a melhor do Victor quem contou foi o Mendonça, médico, que também frequentava a turma. O Victor andava tossindo muito e expectorando, e procurara o Mendonça no seu consultório.
- Acho que peguei a gripe.
- Você tem muito catarro? - perguntara o médico.
- Tenho.
- De que cor é o catarro?
E então Victor pensara um pouco e respondera:
- Sabe o verde daquele afresco do Tiepolo no Palazzo Clerici, em Milão?
O Victor estava presente na mesa quando o Dr. Mendonça contou o fato e apenas sorriu diante da gargalhada geral da turma. Depois deu de ombros e disse:
- O que eu vou fazer se vocês não viajam?"

Tem coisa melhor que isso?

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Poesia


Hoje é dia nacional do livro. Absolutamente impossível falar qual meu livro favorito ou qualquer coisa do gênero. Não consigo nem fazer listinha tipo top 5. Cada mês tem um, cada ano tem um, sem falar dos que amo e ponto.

Não pensei 10 horas ou fiquei selecionando entre todos os livros que ficam aqui comigo. Quero a poesia de sempre:

"tem alguém aqui
tem que eu vi um vulto
tem que ouvi os passos
a voz o gesto
tem alguém aqui que é resto
ou insulto
alguém que é incerto
tem alguém aqui que se perdeu
sombra
assombração
lembrança
presença
sou eu"

sábado, 27 de outubro de 2012

Carta da Ana C.


Em uma carta de 21 de junho de 1976, Ana Cristina César escreve o seguinte em dado momento:

"Assim como a crença análoga de que basta acreditar-se gênio, fazer cara de gênio e ser primeira aluna para ser um gênio. Meu Deus, como é ridículo. Como eu me julgava sapiente. Antonio Cândido? Ah, que isso... Como recuperar a humildade sem cair na inferioridade? E como recuperar as pessoas que eu pisei nessa cavalgada das valquírias?"

Pois é. Sempre se faz necessário recuperar a humildade. E recuperar as pessoas? Talvez sim, talvez não. 

E gente julgando-se gênio? Muita. Inferno.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Wild


A Oprah fala e eu obedeço. Amo tudo dela (o programa que morro de saudade, a revista, etc.). Inclusive o Book Club e acho que todos os livros indicados têm um porquê, são bacanas e tudo mais. Clique aqui para ver mais informações de lá. 

Aí na semana passada estava na Cultura é vi "Wild - from lost to found on the Pacific Crest Trail." Eu geralmente não gosto de livros que contam essas histórias de pessoas que vão fazer caminhadas/trilhas/passar meses em um barco por causa de uma tristeza ou tragédia. Mas já que Oprah falou, eu obedeci. E estou amando. A autora fala diversas vezes o que carrega na mochila, o que se leva, o que se deixa, e quando ela foi falar de seus livros, ela disse o seguinte:

"It hurt to do it, but it had to be done. I´d loved books in my regular, pre-Pacific Crest Trail life, but on the trail, they´d taken on even greater meaning. They were the worlds I could lose myself in when the one I was actually in became too lonely or harsh or difficult to bear."


Lindo. 

A autora é Cheryl Strayed e já há entrevistas dela com a Oprah no site, mas ainda não quero dar rosto para a pessoa que estou lendo. Nem voz.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mãos


"Côncavas de ter
Longas de desejo
Frescas de abandono
Consumidas de espanto
Inquietas de tocar e não prender."

Boa semana, amigos.

sábado, 20 de outubro de 2012

Segunda carta para além dos muros


Estou há umas 2 horas olhando para os livros e lendo, relendo poesias e trechos que marquei com as minhas páginas favoritas. Engraçado isso. Queria encontrar alguma coisa nova para colocar aqui mas não está rolando. Aí pego pela enésima vez o "pequenas epifanias" do Caio. E este é o último trecho de uma crônica (que é o título deste post) publicada no jornal O Estado de São Paulo em 04 de setembro de 1994.

"Pois repito, aquilo que eu supunha fosse o caminho do inferno está juncado de anjos. Aquilo que suja trava parecia, guarda seu fio de luz. Nesse frio estreito, esticado feito corda bamba, nos equilibramos todos. Sombrinha erguida bem alto, pé ante pé, bailarinos destemidos do fim deste milênio pairando sobre o abismo.

Lá embaixo, uma rede de asas ampara nossa queda."

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O Captain My Captain

Sempre fico muito feliz quando um (ex) aluno lê, ouve, vê Whitman e lembra de mim. E do vídeo do aluno  descobri no YouTube só a letra do poema com alguém declamando. Tão lindo, tão lindo. Vejam só:

É só clicar aqui.

Obrigada, Fabiano! Um beijo, meu querido.

domingo, 14 de outubro de 2012

Vou e volto

Vou, vou, vou e volto para Grande Sertão.

Trecho retirado das páginas 524/525:

"Como vou contar, e o senhor sentir em meu estado? O senhor sobrenasceu lá? O senhor mordeu aquilo? O senhor conheceu Diadorim, meu senhor?!... Ah, o senhor pensa que morte é choro e sofisma - terra funda e ossos quietos... O senhor havia de conceber alguém aurorear de todo amor e morrer como só para um."

Aí a gente lê de novo o sofrimento de Riobaldo. E pensa: quantos livros são capazes de despertar tudo isso na gente? Poucos, meus amigos, poucos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Drummond


Amo os livros do Instituto Moreira Salles que reproduzem exatamente o original. Este é o do Drummond. 

"VII - Rio de Janeiro

Fios nervos riscos faíscas.
As côres nascem e morrem
com um impudor violento.
Onde meu vermelho? Virou cinza.
Passou a bôa! Peço a palavra!
Meus amigos todos estão satisfeitos
com a vida dos outros.
Futil nas sorveterias.
Pedante nas livrarias...
Nas prais nú nú nú nú nú
Tú tú tú tú tú no meu coração.

Mas tantos assassinatos, meu Deus.
E tantos adulterios tambem.
E tantos, tantíssimos contos do vigario...
(Este povo quer me passar a perna.)

Meu coração vae mollemente dentro de um taxi."

O livro é de 1930, a grafia do poeta não foi alterada.

Tantíssimos contos do vigário.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Leminski


Em "Distraídos venceremos" li o seguinte:

"podem ficar com a realidade
esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano

eu quero viver de verdade
eu fico com o cinema americano."

Eu e meu amor pela simplicidade e a mensagem direta. Boa semana, amigos!

sábado, 6 de outubro de 2012

Segredos da vida jornalística


Todas as crônicas do Nelson Rodrigues são brilhantes. Todas. Difícil ter lido uma que eu tenha falado: "mais ou menos, não curti". Nesta (publicada no O Globo de 01 de fevereiro de 1974) ele conta algumas coisas da sua vida de repórter. E conta um caso de um homem que estava desconfiado que sua mulher estava tendo um caso com outro e a seguiu  até um hotel e ouviu a sua risada no terceiro andar e:

"Até então, o nosso Disraeli não sabia se odiava a mulher, se a desprezava ou se, pelo contrário, a amava mais do que nunca. Mas o som o enfureceu. Puxa o revólver e faz saltar, à bala, a fechadura. Em seguida, invade o quarto. O amante se enfiou debaixo do guarda-vestido. Não, não. Debaixo da cama. Mas a infiel, mais ágil, mais elástica, acrobática, quase alada, teve tempo de se atirar do alto do terceiro andar. Por aí se vê que ela pecava por sexo e não por amor. O sexo corre e sobrevive. E, se fosse amor, ela se deixaria varar de balas como uma santa; e ainda morreria agradecida."

Que delícia de texto. Leiam as crônicas de "O reacionário - memórias e confissões" da editora Agir.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Alice


Amo todos os poemas deste livro. Já reproduzi quase o livro inteiro por aqui. Cada coisa linda assim:

"nesta vida
não vai dar
pra definir 
paixão

tantas são
de cada um
a lida
entre as idas
e vindas 
do meu coração"


domingo, 30 de setembro de 2012

Última

Caio fala, em uma de suas últimas crônicas publicadas no jornal O Estado de São Paulo, da morte de Ana Cristina César. Depois de tantas tentativas, a escritora "finalmente tinha conseguido" se matar. Um texto lindo, aliás um livro inteiro lindo. Leiam "A vida gritando nos cantos." E uma das frases dele, que serve para tanta coisa:

"Tão arrogantes: quem tem, afinal, o poder de salvar o outro de seus próprios abismos?"

Bom domingo, amigos. Não, a frase (para mim) não é melancólica. Só acho bem real.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Résumé


Amo este poeminha da Dorothy Parker. Nada de fofurinha mas é demais. Era o poema que eu dava nas aulas de literatura americana (parece que foi em uma vida passada, mas tudo bem). 

"Razors pain you;
Rivers are damp;
Acids stain you;
And drugs cause cramp.
Guns aren´t lawful;
Nooses give;
Gas smells awful;
You might as well live."

Várias traduções pipocam na internet. É só procurar. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Home


Li este livro há alguns meses, logo que saiu. O que mais me impressionou foi o texto/poema que inicia o livro. Sabe quando você lê algo e te dá um nó na garganta? Foi isso. Literalmente. Coloquei no meu face na época e também mandei a alguns amigos. Não era para ficar só comigo, outras pessoas tinham que ter esta mesma sensação. Aí não resisti e coloco aqui:

"Whose house is this?
Whose night keeps out the light
In here?
Say, who owns this house?
It´s not mine.
I dreamed another, sweeter, brighter
With a view of lakes crossed in painted boats;
Of fields wide as arms open for me.
This house is strange.
Its shadows lie.
Say, tell me, why does its lock fit my key?"

Amo este texto. E amo o que a autora consegue fazer com o nosso vocabulário. Nada é estranho. Você usa estas palavras todas no seu dia-a-dia. E elas se transformam em algo fantástico. É isso. 

E a mensagem? Olhe para o lado porque nem sempre o que você sonhou é o que aconteceu na sua vida. 


domingo, 23 de setembro de 2012

Fofura

Achei esta imagem em um dos tumblrs que sigo. Fofura total. Coisas de domingo, amigos.

O nosso (tumblr) é este lindo aqui: http://bkidiomas.tumblr.com/

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sophia


Liberdade

O poema é
A liberdade

Um poema não se programa
Porém a disciplina
 - Sílaba por sílaba - 
O acompanha

Sílaba por sílaba
O poema emerge
- Como se os deuses o dessem
O fazemos

Sophia de Mello Breyner Andresen. Preciso ler mais coisas desta mulher. Simples assim.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

By Nightfall



Eu, geralmente, não guardo a maioria dos romances que leio. Às vezes deixo acumular algumas coisas, alguns pockets, e faço minhas doações. Mas há alguns especiais que ficam aqui ao lado. Falei 3 vezes deste livro do Michael Cunningham (aquele que escreveu "As horas") no ano passado e, incrivelmente, quando peguei o livro agora, a história voltou. Coisa rara de acontecer depois de ter finalizado o livro há 1 ano. Leiam. História incrível, narrativa incrível. Linguagem sem frescura e sem arrogância (coisa que ando leio e odiando por aí). 

E na página 225:


"And you´re not the first fool for love," she says.
Thank you, Uta. Thank you, friend. But it won´t do, will it? I have, it seems, gone beyond consolation, there´s not much for me in the image of myself, however true, as another sad citizen doing the little dance.
It might be better if I could howl and weep with you. Can´t, though, even if I wanted to, even if I thought you could bear the spectacle. I´m dry inside. There´s a ball of hair and tar lodged in my belly.
"No," he says, "I´m not." Because really, what else can he say?

domingo, 16 de setembro de 2012

O movimento do tempo


"Sim: lembrar do que passou é perfeitamente humano e natural, mas, se você começa a querer que o tempo volte, e em consequência a fechar-se para o presente, aí começa também a correr o risco de sentir errado, começa a cair fundo e sem volta no círculo da frustração. Porque o que passou já rolou, não tem volta. Falo o óbvio tão óbvio que nem todo mundo vê. Ou se recusa a ver - tão mais confortável manter-se hipoteticamente nesse plano estável onde nada muda - e é então que começa a envelhecer. Envelhecer do mal, envelhecer na treva, sem esperança nem paciência para o novo. Que existe."

O novo existe sim. Feliz ano novo pra gente. Sem envelhecer na treva. 

Crônica publicada em 26 de novembro de 1986 (O Estado de São Paulo).



sábado, 15 de setembro de 2012

Conselho

Este é de Francis Bacon e eu li no livro do Harold Bloom: Como e Por que ler. Livro que amo. Principalmente quando ele fala que temos que ler Whitman (coraçõezinhos) para entender o desenvolvimento da sociedade americana. Mas enfim, o conselho é este:

"Não leia com o intuito de contradizer ou refutar, nem para acreditar ou concordar, tampouco para ter o que conversar, mas para refletir e avaliar."

Simples assim.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Somos inocentes


Aí você pega o livro, vê as anotações que você fez na primeira página e decide passar por elas e se  aventurar pelos poemas de novo. Até encontrar algo que não te chamou a atenção na primeira leitura de meses (ou anos atrás). Como isto:

"A parte dura desta humana lida
é dizer sim na hora do não,
escolher mal entre silêncio e grito,
entre a noite e a explosão 
do dia.

Ceder quando devíamos negar, dizer
não em lugar de afirmar, partir
quando era bom amar, fechar-se
em vez de resgatar a vida.

Sermos tão incertos e indecisos,
perdendo o trem, a hora,
o agora: mas a gente
não sabia."

Algumas horas temos que nos abrir, outras - resgatar a vida. E para saber o quando e a vez de cada coisa? 

domingo, 9 de setembro de 2012

Novo e Estrela


Meus livros agora estão todos lindos ao meu redor. A prateleira de cima que vocês observam na foto está com os livros do doutorado. Lá pra baixo é poesia (os Leminski com os Leminski, Whitmans juntinhos e por aí vai) e outros que quero pertinho. E há mais um móvel ao lado deste e prateleiras ao lado e na minha frente enquanto escrevo. Uma foto só não pega todos os cantos...

E agora fico sentada e só viro a cadeira para as poesias. A gente fica feliz com tão pouca coisa.

E Estrela Ruiz Leminski:

"dentro de mim mora um monstro
um monstro que come pedra e arrasta correntes
um monstro que não dorme
que quando quer sair faz muito estrago
dizem que é parente daquele do lago
mas não tem ninguém que fale sua língua
já nasceu extinta
basta uma palavra e pronto
fica enfurecido o meu monstro
a um ponto que não tem quem demonstre
nunca vi uma raiva sem fundo
esse monstro
tem a fome do mundo."

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Livros e citação



KAFKA.

Hoje todas as minhas prateleiras e estantes vazias vão começar a ter seus livros de volta. As caixas sairão e eu vou pegar um por um, e lembrar de tudo de novo. Ou não lembrar, e ter surpresas. E para começar este lindo dia, a forte citação do Kafka que eu resumiria assim: precisamos daqueles livros que nos afetam DEMAIS. Que mexem, que nos fazem acordar e, que são, porradas internas.

 Bom feriado, amigos.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A um jovem poeta


Adoro um texto do Vinícius (de Moraes, obviamente ... mas pensando bem, qual seria outro?) chamado A UM JOVEM POETA escrito em 1965 e está no meu livro "Para uma menina com uma flor".

Este é o último parágrafo:

"Você, meu caro Jovem Poeta, que foi dotado de talento e de beleza, não tem o direito de negar-se ao seu martírio. Só ele pode tornar a sua poesia emocionante. Só ele pode salvá-lo do formalismo em que caem os que se recusam a estar sempre despertos. É preciso que todos vejam a luz que seu coração transverbera, mesmo coberto por bons panos. Não negue o seu olhar de poeta aos homens que precisam dele, mesmo tendo o pudor de confessá-lo. Abra a sua camisa e saia para o grande encontro."

Eu diria ainda - meu caro Jovem Escritor - não tenha medo MESMO. 

sábado, 1 de setembro de 2012

A vida gritando nos cantos



E um novo livro de crônicas do Caio Fernando Abreu foi lançado nesta semana. Crônicas do Estadão que nunca haviam sido publicadas. Coisas boas da internet, né? Aquele avalanche de coisas dele nas redes sociais deu em algo bom. E um trecho de uma das crônicas (de 09 de outubro de 1986):

"Viver é barra, meu senhor; Deus é naja e o amor - com licença de Maria Rita Kehl - é uma droga pesada. E nada tenho contra barras, najas ou drogas pesadas. Só não acho que fazer aquele cretiníssimo 'jogo-do-contente' de Pollyanna seja a melhor maneira de enfrentar e compreender o real. Todo mundo é médico e monstro. A vida também. Você deve ficar ao lado do médico, mas encarar o monstro quando ele pinta. Senão, meu caro, um dia ele te devora."

E uma obs. minha: setembro, né? Coisa boa.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Leminski

Acho que praticamente toda a obra do Leminski está neste blog. Mas que bom, não? E o poema abaixo está neste livro bilíngue português/espanhol. Cada coisa legal...

"desastre de uma idéia
só o durante dura
aquilo que o dia adiante adia

estranhas formas assume a vida
quando eu como tudo que me convida
e coisa alguma me sacia

formas estranhas assume a fome
quando o dia é desordem
e meu sonho dorme

fome da china fome da índia
fome que ainda não tomou cor
essa fúria que quer
seja lá o que flor."

Adoro o final - seja lá o que FLOR.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

No happy endings

Vi a ilustração abaixo em um dos milhares de blogs/tumblrs que leio sobre literatura/livros/livrarias/bibliotecas e afins. E me dei conta que é exatamente isso. Quantas vezes li um livro e achei que de jeito nenhum deveria haver um final feliz. E quando o final feliz acontece quando eu não espero eu sempre me pergunto: será que é só pro leitor ficar feliz? O leitor não quer, necessariamente, ficar feliz, ele quer ler algo incrível. Sempre. 

It´s ALWAYS about the story. Não acham?


sábado, 25 de agosto de 2012

Ah sim, a velha poesia...


A maioria dos meus livros ainda permanece nas caixas mas hoje não resisti e abri uma delas. E peguei "A vaca e o hipogrifo" de Mário Quintana. Acho que a semana merece acabar com isto:

"Poesia, a minha velha amiga...
eu entrego-lhe tudo
a que os outros não dão importância nenhuma...
a saber:
o silêncio dos velhos corredores
uma esquina
uma lua
(porque há muitas, muitas luas...)
o primeiro olhar daquela primeira namorada
que ainda ilumina, ó alma,
como uma tênue luz de lamparina,
a tua câmara de horrores.
E os grilos?
Não estão ouvindo, lá fora, os grilos?
Sim, os grilos...
Os grilos são os poetas mortos.

Entrego-lhe grilos aos milhões um lápis verde um retrato
amarelecido um velho ovo de costura os teus pecados
as reivindicações, as explicações - menos
o dar de ombros e os risos contidos
mas
todas as lágrimas que o orgulho estancou na fonte
as explosões de cólera
o ranger de dentes
as alegrias agudas até o grito
a dança dos ossos...

Pois bem,
às vezes 
de tudo quanto lhe entrego, a Poesia faz uma coisa que
parece que nada tem a ver com os ingredientes mas que
tem por isso mesmo um sabor total: eternamente esse 
gosto de nunca e de sempre."

É pra ler. E pra chorar. 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Hemingway


Tenho o livro de cartas do Hemingway. A coisa mais linda. Ainda não li tudo e toda hora vou lá, abro uma página (das 930) e vejo cada coisa. Já disse em vários posts que amo cartas de escritores. Amo. Eu e meia dúzia de gente no mundo (leia-se Elaine), acho eu. 

Abri hoje na página 216. É uma carta de 07 de setembro de 1926 para o Fitzgerald. A carta começa com "Dear Old Fitz", vai por mais 8 parágrafos e o final:

"Give my love to Zelda and tell her how sorry we were not to see you when we came around to say goodbye. I haven´t been drinking, haven´t been in a bar, haven´t been at the Dingo, Dome nor Select. Haven´t seen anybody. Not going to see anybody. Trying unusual experiment of a writer writing. That also will probably turn out to be vanity. Starting on long semi-permanent bike trip to last as long as the good weather lasts as soon as my present piles go down. Then will get a lot of work done, all the stories I want to write, probably working in Marseilles. Then we´ll see.

The world is so full of a number of things I´m sure we should all be as happy as kings. How happy are kings?
Yrs always,
Ernest."

How happy are kings? Pois é.

domingo, 19 de agosto de 2012

Fitzgerald

Citação do grande Fitzgerald:

"That is part of the beauty of all literature. You discover that your longings are universal longings, that you’re not lonely and isolated from anyone. You belong."

Várias coisas interessantes no "writing quotes".

E continuamos por aqui.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Julio Cortazar


Julio Cortazar escreveu em Paris o seguinte:

SEJAM REALISTAS, PEÇAM O IMPOSSÍVEL.
 
"Não fazemos outra coisa,
o impossível é o pão em cada boca,
uma justiça de olhos lúcidos,
uma terra sem lobos, um encontro
com cada fonte ao final do dia.
Somos realistas, companheiro, vamos
de mãos dadas do sonho à vigília."

Adoro esse livrinho.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Grande sertão


Meu "Grande sertão" ficou fora das caixas (comecemos as interpretações, por favor). E o interessante é que as marcações que tenho dele foram feitas há quase 20 (ai) anos, quando estava na faculdade. Só uma obs: a maioria dos meus livros tem, nas suas respectivas primeiras páginas, meus trechos favoritos anotados por página. Então, é uma delícia voltar a folhear o livro e descobrir coisas interessantes que eu não lembrava mais. E que, na época, foi lido por uma Andréa bem diferente. Enfim, na página 278:

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza." 

Ai, Riobaldo.


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Poesias coligidas


3 caixas cheias de livro estão fechadas aqui ao meu lado. Não tenho apego aos objetos em geral. Mas demorei alguns dias para encaixotar os livros e ainda rolaram lágrimas porque eles devem ficar lá por algumas semanas ou meses. Sei lá o que me deu. Mas, os que ficam em outro móvel, não mudarão de lugar e me farão mais feliz neste meio tempo.

E Fernando Pessoa:

"Aqui neste profundo apartamento
Em que, não por lugar, mas mente estou,
No claustro de ser eu, neste momento
Em que me encontro e sinto-me o que vou,

Aqui, agora, rememoro
Quanto de mim deixei de ser
E, inutilmente, [...] choro
O que sou e não pude ter."

sábado, 4 de agosto de 2012

Thanks


Aí você recebe uma mensagem de alguém que diz que seu blog desperta a vontade de aprender, e que faz a pessoa melhor. O que mais queremos da vida? Nada. Absolutamente nada. 

Olhei pra cima e vi alguns livros que ainda não foram para a caixa e estava este daqui que eu amo e já contei a história em algum lugar do passado. Aqui. 

E na última página: 

"Dear the End of Something,

Thank you for being the beginning of something else.

Much love,

Leah."

É isso - o fim é sempre um começo de outra coisa. Tô poética? Às vezes é bom.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

4 anos

E há 4 anos eu fazia a primeira postagem no blog. A vida era outra, o mundo era outro e coisa e tal. Começo neste fim de semana a empacotar todos os meus livros para pintar a casa e para que um novo móvel seja feito para eles. Vai ser um tempo olhando para as prateleiras vazias, mas depois a coisa ficará melhor.

Talvez as postagens fiquem mais espaçadas porque não terei tudo aqui pertinho de mim. Mas sei lá. Talvez leia coisas tão interessantes que volte sempre. Vamos acompanhar.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Gore Vidal


E aí o povo morre e te dá uma sensação péssima. Quem vai sobrar? É sempre a minha questão. E neste livro de memórias do Gore Vidal, ele fala o seguinte quando completou 50 anos:

"On October 3, 1975, I turned fifty, an event that I wanted to keep secret. I cannot imagine anyone willingly celebrating time´s ruthless one-way passage."

Pois é. RIP Gore Vidal.

domingo, 29 de julho de 2012

Alice Ruiz


Drumundana


"e agora Maria?


o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou 
à luz do dia


e agora Maria?
Vai com as outras
vai viver 
com a hipocondria."




quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sophia


Porque


"Porque os outros mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não."

Sabe aquela coisa de abrir o livro em qualquer página e ver o que rola? Pois é. Cada coisa.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Lya Luft



Pra gente começar bem a semana: "auto-retrato"

"Alguém diz que sou bondosa;
está tão enganado que dá pena.
Alguém diz que sou severa,
e acho graça.
Não sou áspera nem amena:
estou na vida como o jardineiro
se entrega em cada rosa;
corte, sangue dor e aroma,
para que a beleza fique na memória
quando a flor passa.


(Amar é lidar com os espinhos
de quem ama por inteiro:
com força, não com fraqueza.)"

Boa semana, amigos.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Vinícius

 

O que é que tem sentido nesta vida - de Vinícius e Edu Lobo



"O que é que tem sentido nesta vida
Não vai ser casa e comida
Cama fofa, cobertor
Não vai ser ficar mirando os astros
Ou então andar de rastros
Pelas sendas do senhor


Para muitos é o dinheiro
Ir de janeiro a janeiro
De pé no acelerador
Eu, sinceramente, preferia
Uma vida de poesia
Na vigília de um amor


Há quem creia em ter status
Sair em fotos & fatos
Ter ações ao portador
Eu só acredito em liberdade
E estar sempre com saudade
De viver um grande amor."

Como eu adoro este cara.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Adjetivos do Nelson Rodrigues


Trecho da crônica "Quase enforcaram o autor como um ladrão de cavalos". Publicada no jornal "O globo" em 22/01/1969.

"Eu ainda não sabia que nada compromete mais, e nada perverte mais do que a unanimidade. E a minha vaidade assumia uma forma obsessiva e feroz. Ocorreu-me um novo recurso promocional, que era o seguinte - eu próprio escreveria sobre mim mesmo e faria com que amigos assinassem. Assim fiz. E os amigos foram de uma solidariedade cínica e esplêndida. Assinavam tudo e com radiante impudor.

Mas a minha vizinha, gorda, patusca e cheia de varizes, vive dizendo - "Não há bem que sempre dure, nem há mal que nunca acabe." E, no fim de certo tempo, houve em mim um processo de saturação. Com pouco mais, percebi que a minha vaidade estava exausta. Primeira providência - não escrevi mais uma linha para que terceiros assinassem. Segunda providência: comecei a fugir dos meus admiradores."

Eu amo os adjetivos usados por ele. Em todas as crônicas. Dentre os meus favoritos no trecho acima: cínica, esplêndida, radiante e patusca, é claro.

sábado, 14 de julho de 2012

Clarice


Trecho final de "Adeus, vou-me embora!" de 20 de abril de 1968:

"O contato com o outro ser através da palavra escrita é uma glória. Se me fosse tirada a palavra pela qual tanto luto, eu teria que dançar ou pintar. Alguma forma de comunicação com o mundo eu daria um jeito de ter. E escrever é um divinizador do ser humano.

Como? Mas como é que eu escrevi nove livros e em nenhum deles eu vos disse: Eu vos amo? Eu amo quem tem paciência de esperar por mim e pela minha voz que sai através da palavra escrita. Sinto-me de repente tão responsável. Porque se sempre eu soube usar a palavra - embora às vezes gaguejando - então sou uma criminosa se não disser, mesmo de um modo sem jeito, o que quereis ouvir de mim. O que será que querem ouvir de mim? Tenho o instrumento na mão e não sei tocá-lo, eis a questão. Que nunca será resolvida. Por falta de coragem? Devo por contenção ao meu amor, devo fingir que não sinto o que sinto: amor pelos outros?

Para salvar esta madrugada de lua cheia eu vos digo: eu vos amo.

Não dou pão a ninguém, só sei dar umas palavras. E dói ser tão pobre. Estava no meio da noite sentada na sala de minha casa, fui ao terraço e vi a lua cheia - sou muito mais lunar que solar. E uma solidão tão maior que o ser humano pode suportar, esta solidão me toma se eu não escrever: eu vos amo. Como explicar que me sinto mãe do mundo? Mas dizer "eu vos amo" é quase mais do que posso suportar! Dói. Dói muito ter um amor impotente. Continuo porém a esperar."

Todo mundo tem que ler "A descoberta do mundo". Sério.


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sonhei que a neve fervia

A Fal é uma amiga. Uma amiga que conheci virtualmente há anos e que se tornou presente na vida. E nos encontramos, e vamos nos encontrar sempre e tudo mais. Ela agora é do elenco fixo da BK idiomas. Não é lindo? E leiam os livros da moça. Leiam. 


Um trecho:

"Tem horas que sim quer dizer não, que o tapete antiderrapante da cozinha escorrega, que o copo estava firme na sua mão, mas desliza e espatifa. Tem horas que o não quer dizer sim, que o salto prende no buraquinho da calçada (ao que tudo indica, eu me especializei em cair em caixas eletrônicos, craquelando mais e mais meu combalido joelho direito), que a gata branca não volta para casa nunca mais. E tem horas que o não quer dizer isso mesmo: não. Essas são as horas que mais doem."

Pois é.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Os sapatinhos vermelhos

Trecho do conto do Caio Fernando Abreu. Li no meu livro: "Caio 3D: o essencial da década de 1980":



"Afinal a afeição que nutro por você é um fato.

Teria mesmo chegado ao ponto de dizer nutro? Teria, teria sim, teria dito nutro & relacionamento & rompimento & afeto, teria dito também estima & consideração & mais alto apreço e toda essa merda educada que as pessoas costumam dizer para colorir a indiferença quando o coração ficou inteiramente gelado. Uma estalactite - estalactite ou estalagmite? merda, umas caíam de cima, outras subiam de baixo, mas que importa: aquela lança fininha de gelo afiado - cravada com extrema cordialidade no fundo do peito dela."

Essa descrição... essa descrição....

segunda-feira, 9 de julho de 2012

William Carlos Williams




Comecei a ler este poeta há pouco tempo... e tanta coisa legal venho descobrindo. Olhem:

Trecho I de "Calypsos"

"Well God is
love
so love me


God 
is love so
love me God


is
love so love
me well"

sábado, 7 de julho de 2012

Leminski


Já falei dele umas 343439089 vezes aqui no blog, no facebook e na vida. Talvez seja o poeta que mais gosto em língua portuguesa. Acho que é. Li tudo, amo tudo. E sempre descubro algo incrível e que me surpreende. Mesmo depois de ter lido a mesma coisa tantas vezes.


"leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo,
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura."

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Fernando Pessoa/Álvaro de Campos


Último trecho de "Apostila":


"Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisas,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O regato casual das chuvas que vão acabando,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,

O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da terra,
E estremece, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino."

Que coisa linda.

Ficções do interlúdio/4 - Poesias de Álvaro de Campos.