domingo, 30 de setembro de 2012

Última

Caio fala, em uma de suas últimas crônicas publicadas no jornal O Estado de São Paulo, da morte de Ana Cristina César. Depois de tantas tentativas, a escritora "finalmente tinha conseguido" se matar. Um texto lindo, aliás um livro inteiro lindo. Leiam "A vida gritando nos cantos." E uma das frases dele, que serve para tanta coisa:

"Tão arrogantes: quem tem, afinal, o poder de salvar o outro de seus próprios abismos?"

Bom domingo, amigos. Não, a frase (para mim) não é melancólica. Só acho bem real.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Résumé


Amo este poeminha da Dorothy Parker. Nada de fofurinha mas é demais. Era o poema que eu dava nas aulas de literatura americana (parece que foi em uma vida passada, mas tudo bem). 

"Razors pain you;
Rivers are damp;
Acids stain you;
And drugs cause cramp.
Guns aren´t lawful;
Nooses give;
Gas smells awful;
You might as well live."

Várias traduções pipocam na internet. É só procurar. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Home


Li este livro há alguns meses, logo que saiu. O que mais me impressionou foi o texto/poema que inicia o livro. Sabe quando você lê algo e te dá um nó na garganta? Foi isso. Literalmente. Coloquei no meu face na época e também mandei a alguns amigos. Não era para ficar só comigo, outras pessoas tinham que ter esta mesma sensação. Aí não resisti e coloco aqui:

"Whose house is this?
Whose night keeps out the light
In here?
Say, who owns this house?
It´s not mine.
I dreamed another, sweeter, brighter
With a view of lakes crossed in painted boats;
Of fields wide as arms open for me.
This house is strange.
Its shadows lie.
Say, tell me, why does its lock fit my key?"

Amo este texto. E amo o que a autora consegue fazer com o nosso vocabulário. Nada é estranho. Você usa estas palavras todas no seu dia-a-dia. E elas se transformam em algo fantástico. É isso. 

E a mensagem? Olhe para o lado porque nem sempre o que você sonhou é o que aconteceu na sua vida. 


domingo, 23 de setembro de 2012

Fofura

Achei esta imagem em um dos tumblrs que sigo. Fofura total. Coisas de domingo, amigos.

O nosso (tumblr) é este lindo aqui: http://bkidiomas.tumblr.com/

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sophia


Liberdade

O poema é
A liberdade

Um poema não se programa
Porém a disciplina
 - Sílaba por sílaba - 
O acompanha

Sílaba por sílaba
O poema emerge
- Como se os deuses o dessem
O fazemos

Sophia de Mello Breyner Andresen. Preciso ler mais coisas desta mulher. Simples assim.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

By Nightfall



Eu, geralmente, não guardo a maioria dos romances que leio. Às vezes deixo acumular algumas coisas, alguns pockets, e faço minhas doações. Mas há alguns especiais que ficam aqui ao lado. Falei 3 vezes deste livro do Michael Cunningham (aquele que escreveu "As horas") no ano passado e, incrivelmente, quando peguei o livro agora, a história voltou. Coisa rara de acontecer depois de ter finalizado o livro há 1 ano. Leiam. História incrível, narrativa incrível. Linguagem sem frescura e sem arrogância (coisa que ando leio e odiando por aí). 

E na página 225:


"And you´re not the first fool for love," she says.
Thank you, Uta. Thank you, friend. But it won´t do, will it? I have, it seems, gone beyond consolation, there´s not much for me in the image of myself, however true, as another sad citizen doing the little dance.
It might be better if I could howl and weep with you. Can´t, though, even if I wanted to, even if I thought you could bear the spectacle. I´m dry inside. There´s a ball of hair and tar lodged in my belly.
"No," he says, "I´m not." Because really, what else can he say?

domingo, 16 de setembro de 2012

O movimento do tempo


"Sim: lembrar do que passou é perfeitamente humano e natural, mas, se você começa a querer que o tempo volte, e em consequência a fechar-se para o presente, aí começa também a correr o risco de sentir errado, começa a cair fundo e sem volta no círculo da frustração. Porque o que passou já rolou, não tem volta. Falo o óbvio tão óbvio que nem todo mundo vê. Ou se recusa a ver - tão mais confortável manter-se hipoteticamente nesse plano estável onde nada muda - e é então que começa a envelhecer. Envelhecer do mal, envelhecer na treva, sem esperança nem paciência para o novo. Que existe."

O novo existe sim. Feliz ano novo pra gente. Sem envelhecer na treva. 

Crônica publicada em 26 de novembro de 1986 (O Estado de São Paulo).



sábado, 15 de setembro de 2012

Conselho

Este é de Francis Bacon e eu li no livro do Harold Bloom: Como e Por que ler. Livro que amo. Principalmente quando ele fala que temos que ler Whitman (coraçõezinhos) para entender o desenvolvimento da sociedade americana. Mas enfim, o conselho é este:

"Não leia com o intuito de contradizer ou refutar, nem para acreditar ou concordar, tampouco para ter o que conversar, mas para refletir e avaliar."

Simples assim.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Somos inocentes


Aí você pega o livro, vê as anotações que você fez na primeira página e decide passar por elas e se  aventurar pelos poemas de novo. Até encontrar algo que não te chamou a atenção na primeira leitura de meses (ou anos atrás). Como isto:

"A parte dura desta humana lida
é dizer sim na hora do não,
escolher mal entre silêncio e grito,
entre a noite e a explosão 
do dia.

Ceder quando devíamos negar, dizer
não em lugar de afirmar, partir
quando era bom amar, fechar-se
em vez de resgatar a vida.

Sermos tão incertos e indecisos,
perdendo o trem, a hora,
o agora: mas a gente
não sabia."

Algumas horas temos que nos abrir, outras - resgatar a vida. E para saber o quando e a vez de cada coisa? 

domingo, 9 de setembro de 2012

Novo e Estrela


Meus livros agora estão todos lindos ao meu redor. A prateleira de cima que vocês observam na foto está com os livros do doutorado. Lá pra baixo é poesia (os Leminski com os Leminski, Whitmans juntinhos e por aí vai) e outros que quero pertinho. E há mais um móvel ao lado deste e prateleiras ao lado e na minha frente enquanto escrevo. Uma foto só não pega todos os cantos...

E agora fico sentada e só viro a cadeira para as poesias. A gente fica feliz com tão pouca coisa.

E Estrela Ruiz Leminski:

"dentro de mim mora um monstro
um monstro que come pedra e arrasta correntes
um monstro que não dorme
que quando quer sair faz muito estrago
dizem que é parente daquele do lago
mas não tem ninguém que fale sua língua
já nasceu extinta
basta uma palavra e pronto
fica enfurecido o meu monstro
a um ponto que não tem quem demonstre
nunca vi uma raiva sem fundo
esse monstro
tem a fome do mundo."

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Livros e citação



KAFKA.

Hoje todas as minhas prateleiras e estantes vazias vão começar a ter seus livros de volta. As caixas sairão e eu vou pegar um por um, e lembrar de tudo de novo. Ou não lembrar, e ter surpresas. E para começar este lindo dia, a forte citação do Kafka que eu resumiria assim: precisamos daqueles livros que nos afetam DEMAIS. Que mexem, que nos fazem acordar e, que são, porradas internas.

 Bom feriado, amigos.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A um jovem poeta


Adoro um texto do Vinícius (de Moraes, obviamente ... mas pensando bem, qual seria outro?) chamado A UM JOVEM POETA escrito em 1965 e está no meu livro "Para uma menina com uma flor".

Este é o último parágrafo:

"Você, meu caro Jovem Poeta, que foi dotado de talento e de beleza, não tem o direito de negar-se ao seu martírio. Só ele pode tornar a sua poesia emocionante. Só ele pode salvá-lo do formalismo em que caem os que se recusam a estar sempre despertos. É preciso que todos vejam a luz que seu coração transverbera, mesmo coberto por bons panos. Não negue o seu olhar de poeta aos homens que precisam dele, mesmo tendo o pudor de confessá-lo. Abra a sua camisa e saia para o grande encontro."

Eu diria ainda - meu caro Jovem Escritor - não tenha medo MESMO. 

sábado, 1 de setembro de 2012

A vida gritando nos cantos



E um novo livro de crônicas do Caio Fernando Abreu foi lançado nesta semana. Crônicas do Estadão que nunca haviam sido publicadas. Coisas boas da internet, né? Aquele avalanche de coisas dele nas redes sociais deu em algo bom. E um trecho de uma das crônicas (de 09 de outubro de 1986):

"Viver é barra, meu senhor; Deus é naja e o amor - com licença de Maria Rita Kehl - é uma droga pesada. E nada tenho contra barras, najas ou drogas pesadas. Só não acho que fazer aquele cretiníssimo 'jogo-do-contente' de Pollyanna seja a melhor maneira de enfrentar e compreender o real. Todo mundo é médico e monstro. A vida também. Você deve ficar ao lado do médico, mas encarar o monstro quando ele pinta. Senão, meu caro, um dia ele te devora."

E uma obs. minha: setembro, né? Coisa boa.