quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Drummond


Amo os livros do Instituto Moreira Salles que reproduzem exatamente o original. Este é o do Drummond. 

"VII - Rio de Janeiro

Fios nervos riscos faíscas.
As côres nascem e morrem
com um impudor violento.
Onde meu vermelho? Virou cinza.
Passou a bôa! Peço a palavra!
Meus amigos todos estão satisfeitos
com a vida dos outros.
Futil nas sorveterias.
Pedante nas livrarias...
Nas prais nú nú nú nú nú
Tú tú tú tú tú no meu coração.

Mas tantos assassinatos, meu Deus.
E tantos adulterios tambem.
E tantos, tantíssimos contos do vigario...
(Este povo quer me passar a perna.)

Meu coração vae mollemente dentro de um taxi."

O livro é de 1930, a grafia do poeta não foi alterada.

Tantíssimos contos do vigário.

2 comentários:

Elaine Cuencas disse...

Andar de taxi no Rio de Janeiro nos anos 30 e depois, deve ter sido uma experiência filosófica! Há tantas referências... Imagino a cidade, linda, quente e, como Drummond deixa retratado aqui neste texto, com muito burburinho e, ao mesmo tempo, imagino a cidade num tom clássico. Gente interessante, tudo sendo descoberto. De táxi, devia ser como num filme espetácular! E o poeta mineiro, vivendo a nostalgia da inocência... "(Este povo quer me passar a perna.)"
Lembra uma crônica do Ruben Braga, outra do Sabino e as recordações do Ruy Castro!

Viu só? Poesia faz a gente calar e falar... muito bom!

Andréa disse...

Eu adoro o Rio de Janeiro, Elaine... E Drummond na década de 30? Delícia mesmo tudo.