sábado, 10 de janeiro de 2015

Amós Oz

Judas, página 157:

"Eu, meu caro, não acredito no amor de todos por todos. A quantidade de amor é muito reduzida. Um homem pode amar cinco homens e mulheres, talvez dez, às vezes até quinze. E mesmo assim, só raramente. Mas se vem um homem e me declara que ele ama todo o Terceiro Mundo, ou que ama a América latina, ou que ama o sexo feminino, isso não é amor, mas pura fraseologia. Ditos da boca para fora. Palavras de ordem. Não nascemos para amar mais do que um punhado de pessoas. O amor é um evento íntimo, estranho e cheio de contradições, pois mais de uma vez amamos alguém por amor a nós mesmos, por egoísmo, por cupidez, por desejo físico, por vontade de dominar o amado e subjugá-lo, ou, ao contrário, devido a uma espécie de desejo de ser dominado pelo objeto do nosso amor, e geralmente o amor se parece muito com o ódio e é mais próximo dele do que imagina a maioria das pessoas.

Veja, por exemplo, que quando você ama alguém ou odeia alguém, em ambos os casos você está a todo instante ansioso por saber onde ele está, com quem está neste momento, se está ou não está bem, o que está fazendo, no que está pensando, quais são seus temores. O coração é falso como ninguém, ele é incorrigível; quem poderá conhecê-lo? Assim falou o profeta Jeremias. Thomas Mann escreveu em algum lugar que o ódio não é senão o amor a que se acrescentou o sinal de subtração da aritmética. A medida do ciúme é a prova de que o amor se parece com o ódio, pois no ciúme se mesclam o amor e o ódio. No Cântico dos Cânticos, no mesmo versículo, nos é dito que forte como a morte é o amor, poderoso como o inferno é o ciúme."




2 comentários:

Elaine Cuencas disse...

Dizer aqui que o texto é perfeito é dizer o óbvio... mas dá vontade mesmo assim: perfeito! Amor e ódio, amar todos é não amar ninguém - o que acontece com a maioria os religiosos -; "amar e mal amar" - como diz Drummond! Vamos, então, amar as palavras... nesse diálogo silencioso, pelo menos, nos sentimos amadas por elas que sempre falam bem ao nosso coração.

Andréa disse...

Elaine,

Este livro é sensacional. Leia. Você vai amar.

Um beijo, meu bem.