terça-feira, 21 de abril de 2015

No teu deserto

Continuação deste post aqui. 



"- Em que pensas?

- Estava a pensar que há viagens sem regresso. E que nunca mais vou voltar desta viagem. Nunca mais vou regressar do deserto.

Tu não respondeste nada. Os teus olhos azuis, ainda estremunhados, o teu cabelo espalhado ao vento em todas as direcções, a tua cara de sono, de menina pequena, respondiam por ti - e, caramba, como tu ficavas bonita assim, sem precisares de dizer o que quer que fosse! Apenas a olhar em frente, como te tinha visto fazer em todos aqueles dias, no banco ao lado do meu no jipe. Tu falavas pouco e essa era uma das coisas de que eu gostava em ti. Quando tudo era bonito de mais ou duro de mais, tu ficavas calada a olhar silenciosamente. Falámos sobre isso uma vez, e eu disse-te que a vida me tinha ensinado que fácil era o ruído, as conversas sem sentido, a banalidade das palavras ditas sem necessidade alguma. De nós, os dois, tu eras, sem dúvida alguma, a mais calma, a mais feliz tranquilamente. A mais atenta, a mais disponível para o vazio e o silêncio. Ah, não te rias, eu observei-te bem, sei do que falo!"

Que coisa linda (eu só falo isso, mas é verdade).


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