terça-feira, 1 de setembro de 2015

A desumanização

"Levava as mãos às minhas, como se fosse velha, e pedia-me: ajuda o pai, não deixes de comer, lê os livros das viagens, namora um homem lavado, pede por mim à Islândia, pede a deus, diz-lhe que componha o órgão da igreja, faz carinhos aos patos, não lhes parta os ovos, celebra sempre a festa do nosso aniversário, ainda que estejas sozinha, sem ninguém, aprende as coisas da escola que não vou aprender, toma conta das respostas para as minhas mensagens, foge do Einar, já sabes, aprende o arrependimento, ri-te muito. Se alguma das minhas garrafas vier devolvida, atira outra vez. Ninguém precisa de saber que já não estou aqui. Se os mortos forem heróis, vou realizar os teus sonhos. Vou ficar a olhar por ti, mesmo que não me consigas ver. Eu acho que os mortos sabem as coisas todas da escola. Não achas. Não tenhas medo. Não é preciso termos tanto medo, só um bocadinho."



Se tem algo mais bonito, eu não sei.

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