quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Otto e Fernando de novo

Trecho de carta do Otto Lara Resende para Fernando Sabino. "O Rio é tão longe".



"Lisboa, 6 de setembro de 1968.


São suas horas e picos da manhã, volto do cassino do Estoril, onde arrisquei uns escudos na roleta, ganhei quatro plenos de saída, parei, perdi 320 escudos na maquininha diabólica e devoradora, troquei as fichas e caí fora, Helena me esperava no salão lá fora, com a Mônica e a Andréa. Copo de leite pra variar (acho que sou o único sujeito em Portugal que toma leite de madrugada), cafezinho e cigarros às pampas, preciso fumar menos e trabalhar mais. Como é bom trabalhar, mesmo bestamente, estou cada vez mais convencido de que quem não cumpre com o seu dever cotidiano (os mais bestas: ir ao dentista, cortar o cabelo, fazer  barba atrasada, pagar a conta do alfaiate, comprar goma arábica) merece ser condecorado, que é um pobre-diabo infeliz, sem a alegria moral remuneradora de quem enche o seu dia na bigorna humilde dos deverezinhos de todo-santo-dia. Eu já perdi a esperança de me recuperar. Sou um caso perdido."


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